Talvez a receita capaz de dar forma à função existencial de cada um não esteja escrita em nenhum livro sagrado, tratato ideológico ou doutrinário concebido pelo homem...
Examinando a Questão com olhos imparciais...
Cá estamos, cheios de aspirações e incontáveis projetos na pauta das futuras realizações; repletos de opiniões e crenças, e com a firme convicção de que temos uma singular missão sobre a terra. Talvez seja algum trabalho, ou mesmo uma singular obra capaz de se reverter em um tipo qualquer de benefício ou uma boa ação que publicamente tivesse a aparência de uma causa assistencial desinteressada voltada à coletividade.
No entanto, ao final de tudo, sabemos bem que a verdadeira intenção dos nossos atos assistenciais, de fato, é o nosso próprio beneficiamento, embora, eufemisticamente, quase sempre sejam apresentados na forma oferendas ou aportes puramente altruístas.
Esse comportamento faz parte dos costumes de todas as mesologias sociais do nosso mundo civilizado. Trata-se de um bioma social onde, aparentemente, não há gesto de caridade, benevolência ou ato de boa vontade, cujo desfecho final não tenha a autopromoção ou desejo por mérito como motivação.
A razão é simples: acreditamos que apenas nossa interferência é capaz de fazer toda diferença na condução da humanidade, por isso mesmo, a depender do tamanho do mérito conquistado, sempre ficamos no aguardo de uma régia e proporcional recompensa, seja como aporte material ou espiritual. E eis o motivo pelo qual um mesmo ato, se praticado por nós, sempre terá sido mais relevante que todos os demais similares.
A Ideia do Plano existencial pessoal passada de pais para filhos...
Mas a ideia de que temos uma obra, uma exclusiva, expressiva e imprescindível tarefa a cumprir, não é de nossa autoria. Na verdade quando chegamos ao mundo, todo esse ideário já povoava a mente dos nossos ancestrais. Faz parte de todas as culturas e tradições; de todas as nações civilizadas e comunidades remotas. Resta então apenas uma questão: Que missão é essa, e como teremos certeza que, de fato, trata-se de uma deliberação ou atribuição autêntica?
No entanto, talvez a questão mais importante seja descobrir como, ou através de quem, finalmente, seremos informados sobre a natureza ou características dessa exclusiva tarefa pessoal.
Como se tudo isso não bastasse, depois de tomar conhecimento da nossa missão terrena, ainda nos resta outra questão: O que determina o início e o fim dessa misteriosa obra ou apostolado? Mais ainda: Que autoridade ou entidade ficará encarregada de acompanhar, conferir, e finalmente bater o martelo dando por encerrado todo esse processo existencial?
Um motivo, esse é o ponto de partida para qualquer tarefa. Início e fim fazem parte desse movimento. Uma obra se planeja, se transforma em projeto, inicia-se a feitura. E para nos certificarmos de que nada foi deixado de fora, há todo um elaborado processo de acompanhamento. Assim, depois de um longo e laborioso esforço pessoal, podemos contemplar o resultado e passar à fase seguinte. Faltam os testes de aceitabilidade e conformação, que é uma espécie de aferição, onde será emitido um certificado atestando que o projeto chegou ao fim, e o mais importante, que tudo foi realizado de acordo com a pauta inicialmente planejada.
Em nossa vida diária, para a fabricação ou confecção de bens materiais, o processo funciona mais ou menos segundo estes critérios. No entanto, são coisas criadas por nós, para atender às nossas demandas, necessidades e caprichos. Criamos porque cada uma delas tem uma função, uma causa, e essa destinação nós conhecemos bem. Elas existem porque existimos. Mas, será que a mesma regra se aplicaria ao sentido da vida humana? Isto é, poderão servir de modelo, gabarito ou parâmetros para explicar as razões da existência de cada homem sobre a terra?
E a regra em nosso mundo lógico e analógico é bastante simples: Se há um motivo para tudo, por dedução lógica, também podemos admitir que para tudo, sem exceção, há uma função ou serventia. Sem essas prerrogativas não teria sentido sua existência. O existir de algo sem utilidade seria ilógico, incoerente, absurdo, insensato, ao menos segundo nosso ponto de vista.
Por exemplo, em nosso mundo de funcionalidades, cada item criado ou concebido por nós tem um claro propósito, e isso representa seu motivo existencial.
Depois de feito, aquele item, para sempre, deverá passar por vários processos de atualizações e mudanças, ao qual poderão ser acrescentadas novas funcionalidades; menor ou maior durabilidade, tudo isso, a depender de sua utilidade, necessidade, interesses do fabricante ou consumidor, e assim por diante. Atualizar não significa refazer o projeto, mas apenas lhe acrescentar as devidas correções, detalhes fundamentais para aumentar sua vida útil e viabilizar seu uso regular. Refazer é fazer um novo. Poderá ter características semelhantes ao modelo anterior, mas não é o mesmo, embora o possamos considerar como um similar.
Refletindo sobre nosso passado, presente e futuro Objetivo de Vida...
De fato, cada integrante da massa que chamamos de humanidade está convicto de que possui um exclusivo objetivo de vida, embora ignore qual seja. Mas, objetivo de vida aparentemente é uma coisa, enquanto que função para o viver outra. Afinal de contas, não nascemos com uma declaração explícita de objetivo de vida ou com um projeto formal debaixo do braço que finalmente determine nosso caminho existencial.
Função existencial, eis o ponto principal da nossa questão. Qual a utilidade de uma entidade humana, não do ponto de vista da mesologia ou tradição, mas da natureza? Eis uma dúvida recorrente. Propostas ou sugestões sociais existem aos milhares, e cada nação já se encarregou de protocolar e homologar seus próprios repertórios.
Uma profissão, um nome, uma posição dentro da grade social, eis o que significa nosso atual objetivo de vida. Objetivo de vida, de acordo com nossa cartilha social, significa, dentre outras coisas, gravar nosso nome como autor de alguma obra relevante, destacar-se como cidadão exemplar ou profissional bem sucedido, e assim por diante. E todas essas coisas resumem de forma genérica a meta existencial destinada a cada indivíduo.
Tentar resolver os problemas do dia a dia, isso tem sido nossa eterna angústia. Não sobra tempo para mais nada, e eles, os problemas, brotam de todos os lados; do passado, do presente, e também do futuro. Aliás, a maioria deles estão lá, no incerto futuro. Assim, parece que solucionar os problemas, nossos e dos outros, nesse momento, é a nossa mais importante função existencial.
Trabalhamos para suprir nossas necessidades básicas, e o trabalho se torna uma obrigação, assim como a educação dos filhos, e a nossa. E há também a questão da saúde, e as diversões, o culto religioso, os incessantes conflitos. E tudo isso acaba por se transformar em problemas que precisam urgentemente de resolução.
E o próprio viver, que faz parte do pacote, torna-se um grande problema. Não há então os pequenos, médios ou grandes problemas que demandam solução, mas, ao invés disso, o inteiro viver é esse problema. Assim, resolver essa questão se torna nosso objetivo de vida. Por isso precisamos de motivação, de crenças, de guias e salvadores. E todas essas coisas se transformam em mais problemas. E parece que a cada passo, quanto mais buscamos uma solução, mais aumenta a confusão.
Trata-se de um labirinto dotado de apenas uma porta de entrada, e quando nele adentramos, nem sempre por nossa vontade, esta se fecha sem deixar vestígios de que um dia existiu. Por isso, além de nunca encontrarmos uma saída, também não sabemos como ali adentramos. E lá dentro, restam apenas alternativas de como aprender a viver naquele ambiente que se assemelha a uma fortaleza de muros invisíveis onde se cultuam apenas problemas.
E todas nossas propostas existenciais se limitam às condições do labirinto. Se dali não há saída, também nossos objetivos se direcionam apenas para qualquer ponto dentro de sua jurisprudência, portanto, inexistente lá fora. Aliás, existirá um lado de fora?
Pausa para uma Reflexão...
E se começássemos admitindo que ainda não dispomos de meios para determinar qual é o nosso objetivo de vida primário, e que ninguém mais sabe ou tem competência para descobrir por nós e depois vir nos informar? Não seria essa a postura lógica de quem deseja investigar a verdade por trás de alguma coisa? Como haverá uma descoberta sem um ato de investigação, uma qualidade que surge naturalmente a partir da dúvida genuína?
No entanto, agora temos uma pista. Sabemos que nada existe sem motivo ou função. Assim, partindo desse princípio, fazendo um estudo profundo de nós mesmos, um autoenfrentamento, sem a interferência de guias, preceitos, conceitos doutrinários ou religiosos, protocolos ou fórmulas prontas, a própria busca já não poderia constituir esse objetivo? Podemos começar por aí.
Sobre a Autora:
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Anne Marie Lucille - annemarielucille@yahoo.com.br
Antropóloga e Pesquisadora na área da Psicopedagogia. Atua como consultora educacional especializada em Educação Integral e Consciencial.
A autora não possui Website, Blog ou página pessoal em nenhuma Rede Social.
Mais artigos da autora em: http://www.sitededicas.com.br/holistica_index.htm
Editoria de Educação do Site Mundo Simples.
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