Autor: Ester Cartago[1]
Publicado: 02 de Agosto de 2024
Imagine um paraíso repleto de coisas perfeitas, onde tudo seria regido pela mais perficiente harmonia, sem falhas, sem nada para ser corrigido, ampliado, ajustado; falando sério, qual seria então o papel dos seus inquilinos?
Estes não mais estariam sujeitos a qualquer forma de aprendizado, nem experimentações pessoais, uma vez que não mais existiriam objetivos a se alcançar, nem falhas sujeitas a correções, ou até mesmo vivências a serem agregadas; muito menos qualidades dignas de novos incrementos.
Quando se observa o crescimento de um ente de natureza biológica, logo se percebe os vários estágios, cada qual com os aspectos peculiares que delimitam claramente as fases de transição, onde a transformação cíclica é a única certeza. Entre uma fase e outra há a transferência de um estágio imperfeito para outro mais adequado, mas, nem por isso definitivo, irretocável ou perfeito.
Uma criança, por exemplo, ao crescer fisicamente, também torna possível ao seu cérebro assimilar novos experimentos, pois ganha uma nova capacidade sensorial e mental.
Ela não deixa de ser criança, mas se transforma em outra mais capaz. E sobre a base infantil outros estágios serão acrescentados. Os limites próprios do primeiro estágio desaparecem; surge um modelo mais eficaz, ainda mais sofisticado, mais adequado à nova realidade, que é uma necessidade, uma demanda natural, uma prerrogativa dessa nova fase somática.
O constante, cíclico e inflexível movimento de transformação é o que caracteriza aquilo que é eterno. Não existe o eterno estático, pois este não poderia escapar das leis da transformação de si mesmo, onde aquilo que não muda, tende a definhar pelo processo da deterioração e morrer.
Trata-se de uma lei natural, e isso não depende da vontade do ser humano. E diz esta lei: "Tudo aquilo que não se transforma, se adequa ou melhora, tende a se desgastar, definhando até o fim." A eterna criança seria uma entidade humana com apenas um ciclo, impedida de experimentar os demais estágios existenciais. Não teria sentido sua existência. Um ciclo se acumula sobre o outro, uma vez que o estágio seguinte amplia o potencial dos anteriores.
Deverá aprender a partir daquilo que é imperfeito. Poderá então por meio dessa autoexperimentação, através dos devidos ajustes em si mesmo, deixar para trás os estágios de menor capacidade ou qualidade para alcançar níveis mais elevados.
Trata-se de um caminho espinhoso, uma vez que todos à sua volta, sem exceção, estarão na mesma trilha, dentro do mesmo modelo de viver imperfeito. Imperfeito quer dizer transitório, e perfeito significaria o permanente. Mas não existe o permanente estático, por isso não pode existir o Perfeito.
No entanto, perfeito poderia ser o eterno ciclo involuntário; um movimento reciclador que de modo apenas parcial e relativo pode se tornar voluntário; da transformação do inadequado para o mais adequado, embora nunca o definitivo.
Perfeito é o aprendiz que se conscientiza disso e em cujo caminho a eternidade se revela com suas infinitas possibilidades; com seu eterno movimento de autoajustamento. E onde estão as coisas perfeitas? O ato de reconhecer-se como imperfeito, ou o incompleto que vê na mutação de si mesmo progresso, essas coisas poderiam ser consideradas perfeitas. Não se trata da autorreciclagem através do aprender, mas do aprender através da autorreciclagem.
E assim o aprendiz se percebe imperfeito, por isso não julga nem a si mesmo. Apenas observa, de maneira passiva ativa, praticando em si mesmo aquilo que aprendeu com suas próprias limitações e falhas. Não vê o perfeito como objetivo derradeiro, pois esse atributo ele não conhece. Mas vê nas próprias imperfeições a possibilidade de que é possível mudar.
Já não julga o mundo imperfeito tendo a si mesmo como gabarito ou ponto de referência, uma vez que agora está totalmente consciente de que também é imperfeito. Mas, observa em si tais imperfeições e compreende a necessidade dos ajustes; e eis sua verdadeira fonte de aprendizado e motivação.
Uma pedra preciosa bruta se transforma em mais quando lhe tiram as arestas durante seu processo de polimento. Logo, para esta, o menos significa mais.
Diante da imperfeição, finalmente, o aprendiz tem a oportunidade de renascer e de desenvolver novas qualidades migrando para novos estágios existenciais e conscienciais, mas nunca sem antes conhecer seus limites. Afinal de contas, um limite precisa ser percebido claramente, e pela cientificação do seu perímetro poderá ser ampliado, extrapolado, e apenas assim potencializado.
Observar, perceber, e finalmente compreender a si mesmo, faculta a autotransformação, e isto significa que houve aprendizado com inteligência. Eterno é seu movimento, perfeito o seu ritmo; perfeito a sua causa e efeito.
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Ester Cartago - estercartago@gmail.com
É Psico-orientadora especializada em educação Integral e Consciencial, Antropóloga, pesquisadora de Fobias Sociais e também escritora. Torna-se agora mais uma colaboradora fixa do nosso site.
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