Autor: Anne Marie Lucille e Jon Talber[1]
Publicado: 02 de Setembro de 2024
Afinal de contas, por trás de cada grupo que defende o caos, a anarquia urbana, as tramas corruptoras da sociedade, ou mesmo a criação de uma mente social que esteja inclinada a seguir suas ideologias patológicas ou a cultuar doutrinas belicistas, o que existe senão uma autoridade especializada no conhecimento humano, um idealista acadêmico dotado de superior e eclética cognição?
E nos tempos de suposta paz, onde governos democráticos, totalitários ou socialistas, cujo lema é a condução do seu povo para onde apontam seus interesses pessoais, estes também não são dotados de um singular perfil erudito? E os cientistas sem ética, movidos pela ganância do acumular cada vez mais méritos, reconhecimento público, dinheiro e poder, especialistas em criar distorções sociais e as mais letais armas de destruição em massa, também estes, não são dotados do mais elevado e qualificado conhecimento acadêmico?
E o que dizer das autoridades disseminadoras das ideologias patológicas que assolam a humanidade; os sábios, homens que se autodenominam santos, gurus e ministros religiosos, cujos ideais sagazes são simples argumentos para alimentar seus Egos sedentos de idolatria e poder sobre os mais fracos, sem, entretanto, esconderem a firme vontade de conduzir pelo cabresto, sob o jugo do medo, sua legião de seguidores?
E as autoridades que limitam o modo de pensar de cada homem, determinando seus desejos e aspirações; conduzindo-os como a uma manada de animais do pasto ao matadouro, também estas, não são hospedeiras de um diferenciado e qualificado repertório erudito?
Se não somos capazes de pensar por conta própria, como consequência, também não temos capacidade de auto-organização, autodisciplina e autogestão. Nesse caso, haverá diferença entre nós e um autômato programado para cumprir ordens, ou mesmo de um animal amestrado? Onde está então nossa inteligência e lucidez se nos falta autonomia para dirigir e organizar nosso próprio destino?
Se não estamos qualificados ou capacitados para pensar com liberdade e clareza, por que devemos acreditar que existe em nós algum vestígio de inteligência? Podemos considerar inteligente um sujeito incapaz de conduzir seu próprio destino ou de relacionar-se com seu mundo de maneira equilibrada e não conflituosa?
Se somos conduzidos sem questionar, sem direito à Liberdade de Escolha, enclausurados atrás das grades de um curral, não há diferença alguma entre nós e o indivíduo de uma manada de animais a caminho do matadouro, que alheio ao destino que o espera, ainda acredita que está a caminho de uma nova pastagem.
Uma mente que foi reduzida ao escopo de uma tradição, ideologia, doutrina sectária, tribo política ou étnica, não é uma mente flexível. E a flexibilidade e independência pensênica é o primeiro e mais importante quesito da inteligência. Sem esse pré-requisito a inteligência simplesmente não existe. Lembre-se, potencial para memorizar e repetir protocolos, coreografias sociais, preceitos ou prescrições não é indício de inteligência. Uma máquina analógica inerte já faz isso, mesmo sendo incapaz de pensar por conta própria.
Ao iniciarmos uma jornada em direção a um destino qualquer, podemos nos dirigir a esse ponto sem saber o motivo, sem ter conhecimento do que iremos encontrar no final, ignorando nossos limites, e ainda assim considerar isso um ato de sensatez ou inteligência? Afinal de contas o que é para nós esse atributo que chamamos de inteligência?
Observe um autômato movido por um mecanismo analógico, a chamada corda, como se presta a repetir para sempre o mesmo gesto ao comando de um botão. Há então diferença entre eles e alguém que simplesmente, sem questionar, sem divergir ou decidir a partir de juízos pessoais, cegamente abraça uma ideologia e as deliberações egocentradas de uma autoridade que o controla e o faz repetir suas resoluções e desejos a exemplo de um papagaio amestrado?
Há uma mecanicidade óbvia em nossos gestos e hábitos. Basta observar como tentamos repetir a conduta, preferências e manias dos nossos pais, amigos, ídolos, gente da moda, e como em pouco tempo, em nós, estes caracteres tendem a se transformar em hábitos.
Uma voz de comando, de tanto repetir uma sugestão, acaba por desmontar até mesmo nosso temperamento original. Desse modo, uma criança de natureza pacata é capaz de se tornar um temível soldado disposto a matar um inimigo imaginário, e fará isso apenas para cumprir as escabrosas e insanas ordens do seu comandante.
Nesse processo mecânico, onde velhos hábitos são imitados e ajustados às nossas idiossincrasias, não existe um pensador, pois nada de novo é criado ou modificado, e apenas o velho é copiado e colado.
Vulgarmente, consideramos Inteligência a capacidade inata que todos possuem de Imitar, o que implica em concluir que, segundo o conceito padrão, repetir cegamente preceitos, cultos e ritos de uma tradição, sem considerarmos seus desdobramentos, tudo isso, para um expressivo contingente de especialistas da psique humana, constitui um gesto, postura ou ato, que evidencia grande inteligência.
De fato, mais sensato e lógico seria considerarmos inteligente aquele que se recusa a imitar comportamentos patológicos; aquele que age de maneira independente do senso comum e que está disposto a divergir ou questionar, ao invés de agir cegamente puramente motivado por um sentimento de comoção patrocinado por movimentos idealistas ou uma mentalidade social pré-estabelecida.
Nasce a inteligência quando há a liberdade para o questionamento. Pode ser uma questão simples, como, por exemplo: “Por que devemos escovar os dentes três vezes ao dia?” Ao sentir-se livre para questionar, também o indivíduo está livre para ser criativo, deixando a obrigatoriedade da imitação patológica de lado. Imitar não é uma ação criativa, chama-se a isso de plágio, clonagem ou pensamento de segunda mão. Entretanto, é dentro dessa mentalidade onde estão confinados todos os sistemas pedagógicos formais e informais desse mundo.
Agora observe as incontáveis gerações às nossas costas, com seus ritos e guias, uma corrente civilizatória que mais se assemelha a cegos conduzidos por cegos. E há também os sábios proféticos com suas inumeráveis crenças e sistemas doutrinários; e as tribos ideológicas, étnicas, políticas, pedagógicas, cada uma com seus métodos e sistemas “perfeitos”, e, no entanto, ainda nos encontramos em meio ao caos social, na dependência de um milagre que supostamente virá de fora para remodelar o homem por dentro.
Não seria mais sensato questionarmos: “Por que a resposta para resolver esse problema deveria estar nas mãos destes “Criadores de Soluções”, quando sabemos de antemão que são eles os autores de toda essa confusão?”
A lógica é simples: Poderia o caos criar a harmonia? Então, afinal de contas, estamos esperando o que? E depois de tanto tempo, diante de Conflitos que se tornam cada vez mais complexos, onde as soluções apresentadas criam ainda mais problemas, tudo isso não seria uma evidência irrefutável de que nossa postura passiva, a crença reforçada pelo mito de um milagre patrocinado por outros capaz de restaurar nossa ordem pessoal, pode estar equivocada?
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Jon Talber - jontalber@gmail.com
É Pedagogo, Antropólogo e autor especializado em Educação Integral e Consciencial.
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Anne Marie Lucille - annemarielucille@yahoo.com.br
Antropóloga e Pesquisadora na área da Psicopedagogia. Atua como consultora educacional especializada em Educação Integral e Consciencial.
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