Autor: Alberto Filho[1]
Publicado: 06 de Agosto de 2024
Quem leciona sabe o valor que tem as brincadeiras no universo infantil. Então, por que não usar esse recurso a seu favor durante as aulas? Os benefícios são muitos, dentre os quais, servirá para transmitir conteúdos e conhecer a personalidade das crianças. Servirá ainda como meio para descobrir quais suas dúvidas e avaliar com precisão seu nível de conhecimento.
O comum, segundo a inflexível tradição pedagógica, é que os professores não deixem a brincadeira ocorrer espontaneamente, e tentando exercer o controle de tudo com suas próprias ideias, acabarão por inibir ou anular o desenvolvimento de diversos e importantes aspectos para a personalidade infantil. Brincando de maneira espontânea a criança aprende a lidar com o mundo e forma as bases de sua futura identidade.
Ali, ela recria situações do cotidiano, experimenta sentimentos básicos, como medo, ansiedade, frustração, carinho, e assim por diante.
Só não dá para adaptar uma brincadeira a um determinado conteúdo distorcendo sua forma original. Trata-se de uma atividade que, pela sua natureza espontânea, não pode ser controlada. Mas, sendo bem usada poderá se transformar numa excelente ferramenta de instrução e potencialização cognitiva.
A brincadeira não deve ser confundida com os jogos didáticos, onde o instrutor tem controle total sobre as atividades. No jogo espontâneo a interferência deve ser mínima para não tirar a liberdade das crianças nem inibir o grupo.
Antes das instruções, vamos entender qual a diferença entre Jogos Didáticos, Recreação e Brincadeiras.
A Brincadeira é organizada de maneira livre e autônoma pela criança. Nela as coisas deixam de ter sua função real e se transformam; é uma espécie de reino do faz-de-conta onde quem manda é a imaginação de cada protagonista.
A Recreação também é uma atividade espontânea da criança e é totalmente organizada por ela. É diferente da Brincadeira porque não tem necessariamente uma dimensão simbólica. Além disso, enquanto na brincadeira a criança pode ficar quieta, a recreação está normalmente associada ao gasto de energia e ao movimento.
O Jogo Didático simula uma brincadeira, mas não é feito espontaneamente pela criança, nem ela pode simular coisas do faz-de-conta. As regras são definidas pelo instrutor. Ali os conteúdos didáticos e cognitivos são apresentados em forma de brincadeiras. Todo processo é organizado e controlado pelo adulto.
Que papéis cada aluno representa?
Como as crianças se fantasiam e criam seus personagens fictícios; como se comportam fantasiadas ou interpretando personagens?
Elas usam tempos verbais diferentes para separar o jogo da realidade?
Quantas crianças se unem em cada grupo? Algumas ficam sozinhas? Alguém não brinca?
Meninas e meninos ficam juntos?
Quais os espaços preferidos e durante quanto tempo as crianças brincam?
Na atividade elas se referem aos assuntos da aula, do cotidiano, da televisão ou exploram livremente outros temas?
Que brinquedos preferem: artesanais, industrializados, ou outros objetos aceitos na hora e improvisados como brinquedo?
Os assuntos que preocupam os alunos – os fatos geradores.
Como o grupo se relaciona internamente.
Traços da personalidade de cada um. Você poderá ver quem tem espírito de liderança, quem tem mais ideias, quais os mais tímidos ou passivos.
Terá oportunidade de estudar o Aspecto Emocional de cada um.
Outra informação que surge são os conhecimentos que os alunos já possuem. Avaliar esse tipo de atributo em sala de aula não é possível, e muitas vezes o instrutor não tem como saber quais são os temas que as crianças dominam, assim como seu nível de Linguagem e qualidade de Expressão, inclusive a corporal.
Lembre-se de que seu papel é ajudar a turma a se divertir, e não atrapalhar com atitudes restritivas, interferências, comentários ou posturas indevidas.
Se impuser regras demais, as crianças ficarão intimidadas. No entanto, se não orientar a turma, a atividade não vai ter a produtividade nem o retorno desejado.
O segredo está em Saber como agir nessas horas:
Organize a sala de aula, ou outro espaço disponível, deixando o local ideal para as brincadeiras fluírem. Uma mudança simples na disposição das carteiras pode ter um efeito espetacular. Isso tornará o ambiente mais aconchegante, onde as crianças se sentirão à vontade para criar o que a imaginação manda.
Estude a possibilidade de que a escola compre brinquedos. Se puder dispor desses acessórios, organize-os num canto da sala, de uma maneira lógica. Por exemplo, peças de casinha não deverão estar misturadas com os brinquedos de montar. A organização temática ajuda a criança a reproduzir melhor a realidade. Mas, não proíba as crianças de misturarem os brinquedos; elas precisam ter essa liberdade.
Institua a hora da brincadeira. Basta arrumar as cadeiras, distribuir brinquedos ou outros materiais, propor algum tema, como, por exemplo, brincar de pintor, e deixar a turma livre pra brincar.
Use conteúdos didáticos como tema.
Historinhas tradicionais, alguns contos de fada e as fábulas são excelentes geradores de brincadeiras. Use as histórias preferidas pelo grupo. Colabore com os alunos na seleção dos papéis que cada um vai representar, a partir do conhecimento que já possui de suas personalidades. Ajude-os também a se vestir – pode ser mentalmente, de modo imaginário – caracterizando os personagens.
As crianças se expõem muito enquanto brincam. Respeite-as, procure não ser repreensivo.
Seu papel é combinar regras e impedir conflitos. Mas, se a brincadeira começou como supermercado e acabou como uma aventura na selva, tudo bem.
Invente formas de incentivar a participação dos pais na compra ou confecção de brinquedos para a escola.
Primeiro precisa incentivar as crianças a brincar. Deve ainda ajudar a turma a criar as regras básicas do jogo e por fim deixá-las livres.
Depois que a brincadeira acaba, começa o trabalho do pedagogo. Embora não seja possível associar conteúdo didático com a brincadeira, você pode criar inúmeras atividades pedagógicas a partir de um jogo infantil espontâneo.
Os exercícios serão montados a partir do rumo que cada jogo tomou e com os temas já pautados na sala de aula.Produção de Textos: Peça para que as crianças escrevam sobre o que brincaram. O interesse por esse trabalho é garantido. Sugira que façam desenhos da brincadeira para desenvolver a capacidade de expressão.
Geometria: Um bom exercício é pedir aos alunos que desenhem os espaços em que brincaram, indicando as diferenças de tamanho e formato entre essas áreas. Para ajudar faça marcações no chão delimitando os espaços.
Matemática: Pergunte quantas crianças usaram brinquedos iguais; quantas usaram determinada cor, etc. Trabalha-se com isso as noções de conjunto. Criar outras atividades matemáticas semelhantes não é tão complicado.
Geografia: Montar um cenário ou maquete que reproduza a brincadeira é um ótimo trabalho de representação espacial.
Memória: Peça que tentem lembrar das várias etapas que ocorreram durante o andamento do jogo.
Desenvolvimento pessoal: Proponha aos alunos que descrevam os personagens representados ou aquilo que sentiram ao brincar. Na atividade eles vão lidar com a autoimagem.
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Alberto Filho - albfilho@gmail.com
O autor é orientador em educação infantil, adulta e Holística, e também escritor de contos infantis e juvenis.
O autor não possui Website ou Blog pessoal.
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