Autor: Jon Talber e Ester Cartago[1]
Publicado: 02 de Setembro de 2024
Essa urgência temporal é uma estratégia da natureza, uma vez que o cérebro humano, por ser mais complexo do que o de qualquer outro animal irracional, precisa de grande flexibilidade, e isso significa ser capaz de absorver simultaneamente um grande volume de informações. E eis o motivo pelo qual, nesse estágio etário, o tempo disponível se torna um ativo tão precioso.
Desse modo o cérebro é capaz de aprender mais de uma coisa simultaneamente, e depois memorizar as particularidades de cada uma delas, requisito essencial para a etapa seguinte que é a construção consciente de um formidável banco de memórias. Graças a essa característica, mais comum entre os humanos, a criança mais tarde será capaz de desenvolver o atributo da dedução. Isto significa estar apta a pensar de maneira organizada e lógica, e a partir daí planejar seus atos.
Nessa disposição ímpar para aprender ela é capaz de apropriar-se de qualquer comportamento, inclusive as más influências e os estados emocionais negativos dos adultos, especialmente dos mais próximos. E sendo ainda incapaz de diferenciar o inútil do útil, acaba por incorporar ao seu próprio padrão de pensamento e idiossincrasias tudo que sensorialmente percebe, e tudo isso logo se transformará em caracteres ativos e permanentes do seu caráter.
E a depender do estado psicológico desse orientador involuntário que pode ser pais ou parentes mais próximos, ela terá construído uma personalidade que diante de um problema vislumbra desdobramentos negativos ou positivos. Terá ou não uma predisposição para julgar tudo pelo lado pessimista ou otimista. Poderá crescer com a convicção de que se dará mal ou bem na futura vida adulta. Poderá ainda ter um sistema emocional que facilmente sucumbe às adversidades, ou ao contrário, uma forte disposição para enfrentar com altivez qualquer contratempo ou embaraço existencial que tenha pela frente.
Sempre lembrando que cada detalhe de sua futura personalidade, cada modo como se comporta diante das contingências da vida, vai depender desse aprendizado inicial ou da qualidade dessa pedagogia. Sim, coisas negativas, assim com as positivas, são ensinamentos, instruções, orientações assimiláveis que poderão ser memorizadas e que mais tarde poderão compor o repertório cognitivo daquela criança.
Assim, tudo isso ela apreende e memoriza do mundo à sua volta; daqueles com os quais se relaciona de maneira indireta ou direta. A forma direta é por meio do convívio presencial, com seu grupo familiar ou afim. Indireta é a televisão, livros, revistas, internet, as histórias que escuta, e assim por diante. Caso viva em ambiente conturbado e nosográfico, pela lógica, nosográfico tenderá a ser o seu estado emocional e padrão pensênico predominante. Caso o ambiente seja pacato e harmônico, harmonia e serenidade demarcarão sua base comportamental.
E o processo todo é simples: Se está em sua memória, será usado pelo pensamento. Terá assimilado de fonte conhecida com a qual tinha algum tipo de empatia ou vínculo. E nesses primeiros estágios de sua vida, estas fontes, provavelmente, serão seus parentes ou cuidadores mais próximos.
Assim, a criança pode se tornar um mestre em pessimismo ou em otimismo, e tudo isso vai depender daqueles que orbitam em seu micro universo infantil de maneira indireta ou direta. Quando a mãe ou o pai se propõe a sentar-se com ela para ajudar nas tarefas corriqueiras da escola, isso, apesar de ser instrução, nessa fase de suas vidas, para a formação de sua psique emocional, como conteúdo psicoemocional, tem um valor apenas regular.
Mas, ao contrário, o modo como aqueles adultos se comportam no dia a dia; a maneira espontânea como se relacionam com as pessoas e situações; o modo de falar, os Hábitos, gestos, as queixas, o modo como interagem ao sentar com aquela criança, estes caracteres são as mensagens cognitivas mais importantes nesse estágio de estruturação psicológica da psique infantil.
Uma queixa reforçada pela irritação, intolerância, ansiosismos, gestos que suscitem o estado de violência ou raiva, tudo isso também prepara, orienta, fertiliza o acervo emocional dessa criança, sugerindo uma futura reação semelhante. Quando a impaciência e seus efeitos emocionais controlam nossas ações e condutas, tais comportamentos atuam como importantes instrutores para esse novo protagonista em forma de criança, que ainda busca um modelo para construir sua estrutura psicológica definitiva.
A criança não é capaz de reconhecer o real valor das coisas, uma vez que ainda não é capaz de pensar de maneira lógica. Mas, imitar até gradualmente atingir à perfeição, isso ela já é capaz de fazer. E assim, aos poucos, pelo exemplo diário, involuntário ou voluntário, estimuladas por esse convívio, aspectos adormecidos do seu temperamento acabarão por se identificar e a adotar tais posturas.
É assim que caracteres negativos e positivos da mesologia são agregados à nossa personalidade de modo natural, imperceptível. Finalmente nosso sistema emocional se adequa, aprendendo a reproduzir na íntegra os maus ou os bons hábitos; e também as pantomimas, vícios e manias dos mestres, passivos ou ativos, que sempre estiveram à nossa volta.
E estes atributos, a partir de estímulos externos, acabam por servir de caminho para a construção de cada personalidade. Se o temperamento inato é coisa potencial, ainda não desenvolvida, o comportamento do mundo já é coisa vigente, e são exatamente estes aspectos que acabam predominando na formação das principais nuances da individualidade ou caráter de cada indivíduo.
Desse modo, psicologicamente, nós criamos as posturas dos personagens que serão nossos filhos, e não a misteriosa natureza que nos deu o dom da vida. A natureza detentora do dom da vida, não cria as personalidades ou as preferências comportamentais que caracterizam cada adulto. Isso é papel da mente social e do meio onde vivemos; da mesologia da qual somos partes integrantes e atuantes.
Lembre-se, instrução é toda informação que orienta ao outro como fazer uma coisa, e para uma criança, a origem é coisa irrelevante. Se virá do mau caráter ou do indivíduo bem intencionado, para ela, pouco importa, pois informação é a única coisa que sua mente cheia de frescor e ávida por conhecimento considera importante.
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Jon Talber - jontalber@gmail.com
É Pedagogo, Antropólogo e autor especializado em Educação Integral e Consciencial.
É colaborador voluntário do nosso Site.
Ester Cartago - estercartago@gmail.com
É Psico-orientadora especializada em educação Integral e Consciencial, Antropóloga, pesquisadora de Fobias Sociais e também escritora.
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