Autores: Jon Talber e Ester Cartago[1]
Publicado: 02 de Setembro de 2024
Nessa folha em branco, que é a sua mente, que logo se transformará em sua personalidade, identificando-a como um indivíduo que pensa e age dentro da sociedade, podemos gravar todos os tipos de comportamentos, sejam patológicos ou saudáveis; sendo ou não compatíveis com sua índole primária ou inata.
Nesse contexto, estudar a discreta sinalética do temperamento de cada criança vai ajudar o pai ou educador a conhecer melhor quais são suas predisposições naturais, aquelas que precisarão ser lapidadas para menos ou para mais. De um diamante bruto, quando se retiram os excessos através da lapidação, ele ganha em valor. A mesma analogia ilustra bem um defeito, e quando ele é trabalhado retirando-se os excessos, torna-se de menos, por isso também se ganha mais.
A criança aprende por meio do processo de imitação, e isto quer dizer que, vendo o exemplo dos outros, sejam hábitos ou gestos simples como pegar e segurar objetos, ela acabará por se tornar um “hábil” repetidor de qualquer coisa.
Seus medos, preferências e motivações, isso também ela apreende. Assimila na íntegra a partir do exemplo, do modelo sugerido pelos adultos à sua volta, nesse caso, num primeiro momento, seus pais ou cuidadores.
Os vícios, manias e os hábitos que detestamos, atitudes não éticas, tudo isso são exemplos de orientações que os adultos transmitem, de modo consciente ou não, e que poderão ser absorvidos com sagaz voracidade por aquela folha em branco, onde podemos escrever qualquer coisa.
Não subestime a capacidade de captação e assimilação que possui uma criança. Ela é capaz de perceber mesmo a mais discreta variação de humor dos adultos, assim como vestígios mínimos de impaciência, manias, gestos e atitudes não edificantes. Quando se compara com os adultos, seus sentidos são extremamente mais apurados. Trata-se de uma estratégia de sobrevivência da natureza, uma vez que nesse estágio etário da vida, ela precisa assimilar rapidamente todas as manobras que se tornarão os alicerces, a base para sua sobrevivência.
Ela apreenderá absolutamente tudo, sem códigos de éticas ou culpas presentes, pois, sendo uma folha em branco, terá como única opção imitar aqueles do seu entorno, e nesse pacote estão as condutas, gestos, procedimentos, preferências, manias, vícios e hábitos, por mais bizarros que sejam. Como ela ainda não tem discernimento, senso moral ou sentimento de culpa, apenas tende a imitar, reproduzindo aquilo que seus sentidos conseguem captar, sem discutir qualidade ou utilidade.
E assim, ela também aprenderá a odiar e a gostar; a preferir e desprezar; a ser moralmente fraca ou forte. Aprenderá a ser firme e a ter coragem para enfrentar os obstáculos da vida, mas também poderá aprender a ser uma fraca que sucumbe facilmente diante de qualquer problema, por mais insignificante que seja.
E finalmente, lembre-se, uma criança ao nascer já adentra num mundo repleto de comportamentos milenares e patológicos, recheado por todos os tipos de códigos e símbolos bizarros, onde incontáveis personalidades psicologicamente desorientadas e nosográficas se antagonizam entre si em busca de espaço.
E ali, decerto, encontrará hábitos e manias que se repetem dentro de uma cadeia temporal que se arrasta ao longo de milhares de anos e gerações, passando de pai para filho, de individuo para individuo. E ela, a criança, como um novo protagonista nesse grande palco ou picadeiro, certamente, também acabará por se tornar um desses personagens, ou uma bizarra caricatura, ao incorporar retalhos de traços psicopatológicos de todos os outros.
Defeitos ou virtudes, alienações ou clareza crítica, tudo isso faz parte desse imenso repertório de caracteres que irão se incorporar às suas idiossincrasias, de modo a integrar, compor, construir seu próprio modelo de conduta. Certificar-se de que irá assimilar um máximo de atributos positivos, esse deveria ser o papel ético de todo pai, educador ou responsável.
No entanto, o lastro social doente da mente coletiva deve ser tratado como a um enfermo que necessita de cuidados urgentes. Trata-se de uma intervenção cirúrgica radical, onde as deformações incuráveis precisarão ser extirpadas de uma vez, sem deixar resíduos; talvez apenas lembranças de sua inutilidade.
Mas, apenas isso não basta. Potencializar e requalificar os traços fortes daquele novo temperamento é a solução para que um reciclado comportamento possa vir à tona. Se a reciclagem dessa mente doente não acontece, não devemos nos iludir na esperança de que alguma mudança irá um dia ocorrer, especialmente de modo espontâneo.
Nota de Copyright ©
Proibida a reprodução para fins comerciais sem a autorização expressa do autor ou site.
[1]
Jon Talber - jontalber@gmail.com
É Pedagogo, Antropólogo e autor especializado em Educação Integral e Consciencial.
É colaborador voluntário do nosso Site.
Ester Cartago - estercartago@gmail.com
É Psico-orientadora especializada em educação Integral e Consciencial, Antropóloga, pesquisadora de Fobias Sociais e também escritora. Torna-se agora mais uma colaboradora fixa do nosso site.
Os autores não possuem Websites, Blogs ou páginas pessoais em nenhuma Rede Social.
Mais artigos dos autores em: https://www.sitededicas.com.br
Mundo Simples.
Email: contato@mundosimples.com.br