Autor: Jon Talber - Alberto Filho[1]
Publicado: 02 de Setembro de 2024
Psicologicamente uma criança é feita das memórias que lhes são transmitidas pelos sentidos a partir das experiências de vida. Ela escuta, observa, toca, sente o cheiro, o paladar, e se tudo isso agrada, é gravado como coisa boa, necessária ao seu bem estar. A mesma regra se aplica aos aspectos desagradáveis. Bem estar é uma regra instintiva cultivada por todo animal, seja racional ou não. Trata-se de um recurso necessário à sua sobrevivência.
Se os agrados exagerados criam mais estragos que benefícios, a gratificação discreta, bem conduzida e carinhosa, além de lhes ensinar de maneira inteligente e sensata sobre os princípios da cordialidade, aumenta sua autoestima e edifica.
Pais carinhosos, com presença marcante no seu dia a dia, então, se tornam coisa necessária ao seu progresso sensorial e saúde mental. Assim, ela sentirá prazer ao conviver com seus pais no dia a dia. Nesses primeiros contatos, quando já está na idade das perguntas, o princípio da dúvida deve ser incentivado. O estímulo à dúvida a tornará mais curiosa, mais próxima dos pais, e a depender da receptividade, verá neles amigos e confidentes com os quais sempre poderá contar, e de cuja presença, jamais abrirá mão.
Se a televisão ou Internet estão presentes em todas suas horas de vigília, logo servirão como modelos inspiradores. E aquelas fantasias, por mais distorcidas e bizarras que sejam aos olhos de alguém mais esclarecido, para ela, trata-se de uma realidade com a qual poderá se identificar, e assim, digna de ser imitada.
Por isso, não se engane, até as propagandas terão impacto sobre o comportamento infantil, interferindo de maneira dramática no status do seu temperamento original. Lembre-se, a criança ainda está coletando subsídios para montar sua personalidade e caráter, e o mais importante, não possui uma gota de discernimento ou bom senso.
E, algumas vezes, ao contrário dos pais, televisão e Internet estão sempre presentes e dispostas a preencher seus momentos ociosos, todas as horas, sempre que for necessário. Por isso, as conceituações e doutrinas ali dramatizadas, dentro de suas cabeças, terão mais força condicionante que as palavras dos pais, nem sempre tão presentes, especialmente na hora de desfazer suas dúvidas.
Neste ponto, torna-se oportuno nos lembrarmos do velho ditado: “Água mole em pedra dura tanto bate até que fura”, ou a versão adaptada para estas ocasiões: “Falsos conceitos em terra sem dono, como é o caso da mente infantil ou juvenil, de tanto insistir se fixa como patrono...”
Educar com conflito é o mesmo que conduzir por rédeas; você até conduz, mas não pela vontade do conduzido. Pela dominação não há educação, apenas conformação ou resignação. Pela conformação não existe um cidadão, apenas um protótipo de gente, sem vontade própria. Por dentro não será em nada diferente de um autômato ou zumbi amestrado, movido pelas ideias dos oportunistas, sob domínio do poder hipnótico ou força sedutora de quem quer que seja.
Compreender um filho é entender que ele ainda não possui uma personalidade, a exemplo da nossa. Examinar nossa própria personalidade nos faculta a encontrar as falhas causadoras dos conflitos, uma vez que todas elas estão hospedadas no interior de nossa psique. E neles, em nossos filhos, por enquanto, esse repertório patológico ainda não existe.
Criança birrenta, malcriada, insegura, tudo isso reflete aquilo que ora somos. Elas não têm como aprender sozinhas, por esse motivo, não poderão prescindir de um mestre, ou de vários. E se não estamos presentes, outros certamente se encarregarão de ocupar este espaço. Lembre-se, criar uma mania ou vício é a coisa mais simples do mundo; desfazer-se disso depois, acredite, não é.
Quem não gosta de mimo ou de um agrado, ou de ser tratado com cordialidade? Existe mimo sem instrução? Existe comportamento sem instrutor? Então, por que ficamos chocados quando nossas crianças, no seu modo espontâneo de ser, acabam por expressar através de Comportamentos que consideramos Inadequados os reflexos de toda deseducação que receberam dentro de casa, de nós mesmos?
Conduzir não é apenas suprir. Educação não é repetição. No entanto, a negação dessa repetição, sim. Correção não é condução cega, mas a ausência desta, sim. Corrige-se aquilo que está gasto, falho. Assim o problema é a correção e não aquilo que ela se presta a consertar.
Existe a correção porque existe a falha; existe a falha porque falhamos, porque tudo falhou, e perceber essa verdade pode significar a erradicação ou descontinuidade desse processo nosográfico. Saber onde falhamos de nada serve se continuamos a seguir a mesma velha e surrada cartilha, já corrompida, violada, que um dia adotamos como guia para nossas próprias vidas. Trata-se de um roteiro que não mais deveria servir para nossas crianças.
Perceber que falhamos, que a sociedade falhou, que nossos vícios e manias serão heranças incondicionais para nossos filhos, não por que assim o desejamos, mas porque a mente do mundo está doente, deformada, deteriorada como uma ferida que nunca cicatriza, isso seria o primeiro indício do Despertar da Inteligência.
Educar nossos filhos, não pelo mesmo manual que usamos como tutorial para nossas vidas, mas, com uma nova postura, onde iremos mostrar para eles o mundo exatamente como ele é. Um bioma Viciado, Doente, Deformado, enfim, sua verdadeira feição. Isso é sabedoria, e acima de tudo, decência; um dever responsável, uma conduta da mais elevada ética, respeito e dignidade.
Talvez, desde cedo cientificados de todos esses problemas, tenham mais sucesso que nós na tentativa de resolvê-los, uma vez que desde tarde, apenas aprendemos a empurrar a sujeira para debaixo do tapete.
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Jon Talber - jontalber@gmail.com
É Pedagogo, Antropólogo e autor especializado em Educação Integral e Consciencial. É colaborador voluntário do nosso Site.
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Alberto Filho - albfilho@gmail.com
É pesquisador das Ciências Cognitivas e orientador em educação infantil e adulta, inclusive da terceira idade, com especialização em Educação Integral. É também escritor de contos infantis e adultos, e um dos colaboradores deste Site.
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